malaise de civilisation, 2014

70x100cm, guache e tinta-da-china s/papel

(brasis/áfricas), 100x142cm, lápis de cor, ecoline,  guache e tinta-da-china s/papel

(écran), 70x100cm, tinta-da-china, acrílico, guache, grafite e lápis de cor s/papel

(índias), 63,5x80cm, tinta de água s/mapa

(índias), 75×102,5cm, tinta de água s/mapa

70x100cm, guache e tinta-da-china s/papel

28×19/29×25,5/33x35cm, tinta-da-china (e aguarela) s/papel

137x132cm, guache e tinta-da-china s/papel

(brasis/áfrica), 86x95cm, guache, ecoline, grafite, tinta-da-china e tinta de esmalte s/papel

70x100cm, guache e tinta-da-china s/papel

70x100cm, guache, pastel de óleo e tinta-da-china s/papel

50x77cm, guache, tinta-da-china, grafite e ecoline s/papel

30x54cm, guache, tinta-da-china, pastel de óleo e grafite s/papel

70x100cm, guache, pastel de óleo e tinta-da-china s/papel

26x18cm, grafite e aguarela s/página de livro

26x18cm, grafite e aguarela s/página de livro

100x140cm, guache, pastel de óleo e tinta-da-china s/papel

100x140cm, guache e tinta-da-china s/papel

100x140cm, guache, pastel de óleo e tinta-da-china s/papel

70x100cm, tinta-da-china s/papel

70x100cm, guache e tinta-da-china s/papel

(brasis/áfrica), 70x111cm, tinta-da-china, ecoline e guache s/papel

53x40cm, guache e tinta-da-china s/papel

23x34cm, grafite e colagem s/papel

70x100cm, tinta-da-china e pastel de óleo s/papel

70x100cm, guache e tinta-da-china s/papel

70x200cm, guache,  tinta-da-china e pastel de óleo s/papel

 

 

Depois de outros sítios não terem sequer respondido e de ter sido tão bem recebida aqui na colina de Santana, aceitei a proposta de Célia Pilão para expor em Santa Marta também.

“Malaise de civilisation” é uma série que fiz em Maio deste ano e que queria mostrar num edifício que fosse opressivo de “tanta civilização” e as hipóteses de que me lembrei foram o Instituto Superior Técnico ou o monstro que é o Hospital de Stª Maria, o aeroporto ou uma estação de metro; mas como acima disse, não obtive respostas dos dois primeiros e os outros já não foram precisos.

O Hospital de Santa Marta não tem nada de opressivo, antes pelo contrário, tem uma escala e uma tipologia muito mais humanas, com um claustro muito bonito e aprazível com painéis de azulejos lindos e um repuxo e buxos no meio, não tem nada a ver com Santa Maria (ou São João no Porto, projectos idênticos) mas como queria mostrar estes desenhos aproveitei a ocasião – e sempre é um hospital com as “malaises” que se lhe associam.

“Malaise de civilisation” vem de um texto de Freud de 1929 que fui ler depois de ter ouvido a expressão e depois de ter feito os desenhos. Mas que fala do que pensava (ou então assim o li): a oposição entre o estado primitivo e o evoluído e o desejo (utópico, digo eu) de voltar ao estado primitivo para não sofrer, a necessidade inútil da beleza (ou seja, a beleza, mesmo sem utilidade, é necessária), das obras e instituições da civilização (“Kultur” no original, dizia na tradução francesa) nos afastarem do estado animal e servirem para nos proteger da natureza, da renúncia às pulsões instintivas e a repressão da agressividade se tornarem culpabilidade. E que me parece ter quase “dado a volta” hoje: ao nos afastarmos quase totalmente da natureza com tantas mediações e sem se pôr já “as mãos na massa” e quase só vivendo num mundo virtual, aumenta a tensão. A calmaria é só aparente, o animal obviamente continua a existir, dentro, e praticamente sem possibilidade permitida de escape (esse escape quase só existe no mundo virtual e isso é assustador). Equiparo a virtualidade de hoje à “consolação religiosa” como “delírio colectivo para aniquilar a realidade” de que Freud fala, esse “sentimento infantil de dependência” que hoje se observa ao se ser adulto cada vez mais tarde, sem hipótese de independência (“não tens hipóteses de ser independente mas diverte-te aí no éter, não precisas de mais nada”, parece ouvir-se). Hoje tudo o que não for produto ou divertimento fácil é ignorado e mesmo posto de lado, aniquilado, como a filosofia, a arte, a reflexão, a contemplação, o silêncio.

A civilização está doente. É um exagero? Talvez, depende do ponto de vista, claro.

BAP 9.2014