desenhar para ver – o encontro de BAP com as Galerias da Amazónia, Museu Nacional de Etnologia, Lisboa, 2009 (desenhos de 2007/2008)

ideia da exposição de Joaquim Pais de Brito assim como todas as ideias da montagem espectacular, fotografias de Ana Varandas

 

 

 

 

A reserva da Amazónia – a impossibilidade da beleza
[Reserva da Amazónia: uma beleza que intimida]

Quando visitei a reserva da Amazónia fiquei deslumbrada. São peças e mais peças lindíssimas (e ao mesmo tempo com uma ponta de bizarro que me atraiu logo) feitas com penas às cores, dentes, ossos e carapaças, garras de animais, missangas, entrançados, fibras de palmeiras, barro, etc… e apeteceu-me logo desenhá-las, assim impulsiva e ingenuamente.
Depois de ter tido autorização, a primeira dificuldade foi a escolha. Já nessa fase deixei de lado peças fascinantes mas que me ultrapassavam.
As sessões de trabalho começaram então e todos os dias que ia ao museu, chegava à “sala de restauro antiga” e tinha quatro peças à minha espera, às vezes de um mesmo tipo, outras vezes completamente diferentes entre si. E os primeiros instantes eram sempre de grande intimidação perante a beleza das peças e dos pormenores que tinha o privilégio de descobrir. Fui desenhando mas quase sempre com a sensação de amargo de boca por não ser capaz de fazer o que queria, que era fazer passar a beleza – só ou a beleza da estranheza -, dando-se o caso de não conseguir pura e simplesmente desenhar muitas das peças que escolhi, indo todos os desenhos para o lixo.
[Na sessão de 13.12.2007 escrevi num papel de aguarela que tinha levado para desenhar: “Não sei qual é a validade destes desenhos, não consigo fazer desenhos que dignifiquem as peças que escolhi, que são lindíssimas; parecem-me sempre só tentativas frustrantes que não lhes chegam aos calcanhares. Não consigo passar para o lado de lá, para lá da mera representação do que tenho à frente (bom, na verdade é ao lado, ao lado esquerdo), fazer qualquer coisa de meu, afastando-me do registo etnográfico que não quero nem sei fazer. A única coisa que sei é o nome deste trabalho que é Musa paradisíaca (descobri num livro sobre a história do Brasil e é o nome científico de uma das espécies de bananeira).” No avesso do mesmo papel, escrito mais tarde: “mas foi exactamente o que me aconteceu das outras vezes que fiquei encantada com alguma coisa  – como os animais empalhados, etc – e pedi para a desenhar; desenhar tal e qual o que se vê (que também não consigo, tipo desenho científico) ou dar o salto; ou ainda só desenhar o que já se tem dentro, seja lá o que isso for? E o que se faz com o que se gosta muito e atrai como um íman? Contempla-se só? Tiram-se fotografias só?”
Esta exposição é então o resultado da beleza que paralisa e que intimida, o que me aconteceu com os objectos da Reserva da Amazónia, experiência que durou de Novembro de 2007 a Janeiro de 2008.]
A responsabilidade de fazer jus à sua beleza aliada à minha incapacidade técnica mantiveram-me sempre presente a impossibilidade da tarefa a que me propusera. Foi uma experiência constante dos meus limites e por isso mesmo frustrante.

Bárbara Assis Pacheco, Julho de 2008

entre [ ]: o que mudei e acrescentei depois para o catálogo

 

imagens do catálogo: