das delícias, 2015 (para “percurso(s)”, exposição de BAP e AVL na Estufa Fria)

19 espelhos gravados de tamanhos diferentes

 

tinta de esmalte s/placas de acrílico pequenas

 

19 espelhos pequeninos gravados

 

óleo e tinta de esmalte s/vidros A4 perfurados

 

tinta de esmalte s/placas de acrílico grandes

 

99 garrafas gravadas

(registo possível)

percurso(s), exposição de António Vasconcelos Lapa e Bárbara Assis Pacheco na Estufa Fria, Lisboa, 2015

BAP & LAPA
PERCURSO(S)

Vizinhos de atelier e vizinhos nos temas, António Vasconcelos Lapa e Bárbara Assis Pacheco trabalham em Lisboa no bairro de Campo de Ourique, num interior de quarteirão para onde fogem os melros inquietos e onde crescem delicadas buganvílias. Ali, na quietude de um avesso da cidade, os seus ateliers tornaram-se próximos desde que Bárbara para ali se mudou em 2011.
Nesta exposição designada ‘PERCURSO(S)’, os dois artistas juntaram-se num projecto de ‘Land Art’ que reúne escultura cerâmica de António a desenho inciso e pintura de Bárbara. Embora não tenham moldado a paisagem, nem a tenham transformado revolvendo a terra, nem alterado cursos de água como se fizera na década de 60 do século XX, ambos interferem neste lugar natural com a sua Arte.
António celebra a Natureza, tornando-a parte de um mundo encantado e divertido, e Bárbara observa-a, tomando notas e criticando a acção do Homem no meio ambiente.
António aumentou a escala dos seres vivos, tal como fez Hector Guimard nas entradas do metro parisiense criando gigantescos caules de plantas, ou Gaudí com o seu divertido lagarto do Parc Guell, e por cá o nosso Rafael Bordalo Pinheiro com os seus gigantescos caracóis, lagostas e outros bichos divertidamente fora de escala. O peixe vermelho de António mergulha rindo entre os seus irmãos (onde andará o Santo para lhes falar ?). As formigas seguem o seu carreiro atarefadas que estão em levar o precioso alimento, mais além plantas agitam as cores vivas criadas no atelier, num saber cuidado de doseamento de pigmentos e demoradas fornadas.
Quanto a Bárbara, a artista observa a Natureza como um explorador, inventariando cada ser e tomando nota do que vê em lugares remotos ou novos, para depois nos deixar delicados desenhos gravados sobre espelho, ou pintando padrões de pelagens de animais selvagens. Tal como pequenos recados, vai colocando as suas peças entre a densa folhagem da Estufa, ou na boca de uma formiga apressada esculpida por António. Aqui e ali, surgem também espelhinhos de maquilhagem, com desenho inciso que homenageia o famoso tríptico ‘Jardim das Delícias’ de Hieronymus Bosch, coincidindo e bem com a intimidade do gesto da ‘Menina calçando a meia’ que o escultor Leopoldo de Almeida criou para o silencio e resguardo da Estufa Fria de Lisboa.
Bárbara e António devolvem-nos através da sua Arte, o fascínio de ambos pelo melro inquieto que lhes diz todos os dias: aqui estou eu, agora já fui embora.
Fascínio, inquietação e encantamento pela Natureza, tudo se condensa no olhar único de cada um de nós, se guarda na memória ou perpetua na Arte.
ANA ASSIS PACHECO

 

 

fot. Guida Gil Ramalho:

fot. João Abecasis:

 

fot. Margarida Dias Coelho:

Há os percursos pelas Estufas Fria, Quente e Doce, sinuosos e deslumbrantes, há os percursos de vida dos artistas, mais e menos longos, mais e menos óbvios, há o percurso-encontro entre os dois ateliers vizinhos, curto, e agora, com esta exposição, há percursos pontuados por formigas grandes, peixes ainda maiores, totens, aves-do-paraíso, espelhos, plantas, formas, cores e desenhos estranhos.
As peças de António Vasconcelos Lapa, em grés vidrado, estão por aí, no meio dos canteiros, as cores fortes e/ou escala, próprias da sua visão da natureza, fazem-nas aparecer. Aqui um carreiro de formigas atarefadas no transporte de espelhos, ali um totem com cabeça de ave espreita entre as folhas e por ali mais dois, numa sobreposição de formas e cores que se revelam quando os contornamos; no lago três peixes enormes saltaram mesmo agora, uma tartaruga, não, são duas! e aquilo, que bicho é aquele a tomar banho? Vi flores gigantes e reparei nuns rebentos a desenrolarem-se ao pé dos fetos e mais três conjuntos de coisas-plantas ali entre as outras, o que é a verdade?
É verdade que aquela é uma peça de Rafael Bordalo Pinheiro, veio ao paraíso da Estufa Fria dialogar com as de António Vasconcelos Lapa.
Por entre a folhagem também e desaparecendo quando nos devolvem o outro lado, os espelhos de Bárbara Assis Pacheco transportam-nos para os Mares do Sul onde parece que já estamos e de onde são as aves-do-paraíso aí gravadas com linha por vezes invisível. Pormenores do paraíso do “Jardim das Delícias” estão na gruta dos namorados entre as marcas desses amores e ali mais à frente o avesso do paraíso, que também existe, a cores radioactivas e no monte de garrafas da outra gruta. No paraíso há bichos selvagens? Vi uma zebra e um leopardo, isso vi.
Para percorrer e encontrar, uma exposição que se vai alterando e aumentando com o tempo, tal como a vida na estufa: durante os cinco meses vão surgir peças novas, convidamo-lo a descobri-las.                                                                                                                        BAP

 

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